quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Latência

Habito as horas demorosas desta noite
Os segundos gotejam espaçados
Seguem perdidos, um a um
No abismo das coisas ao redor
Desinventadas no escuro
Mas sabidas em mim 
De súbito  agora 
Quando à mansidão noturna
Segue-se o espanto:
            Encontro-me viva
            No ventre soturno
            De todas as coisas.

Toquinho – Pequena crônica confessional


Aquarela foi uma das primeiras músicas que aprendi a cantar, ouvia com minha mãe em casa. Depois, um pequeno coral na escola em alguma série primária, toda a classe cantando junta... os ensaios... lembro-me bem. A música doce, a imaginação solta pelos versos, um mundo de sons, cores, dúvidas... “por que tem um muro, mãe?”, “onde fica Estambul?”, “que cor é grená?” e “e o futuro?”...

E lembro-me bem do meu espanto de menina ao conceber a ideia de que um homem algo tão grande pudesse singelamente ser chamado de “Toquinho”. Vi a imagem na tv, olhos pequeninos, a fala mansa.. as covinhas do rosto como se sorrisse sempre, mesmo sério. Toquinho era um menino grande. Amei cedo.