Passa a tarde, passa o dia, o tempo, o nada
Horas espinhadas pela sala, tudo enfim se cala
Que há em mim deste meu lar de calmaria
- ceias silenciosas, o som na tarde, as horas -,
De noites varadas a fio, enfim, que há?
Serei aqui, será? Aqui, além? Já não o sou?
O vento arrasta folhas na varanda, leviano
Traz à memória homens do mundo
A sacudir em desalinho como as folhas
- secas, pelos ares, sem razão -
Serei eu aquele homem solitário
À margem da estrada pela noite
E serão meus aqueles seus olhos de nada?
Horas a fio ali no breu, estradas passadas
Será ele eu mais do que eu, assim vazio, leviano
E eu em mim, assim, como um disfarce
De moça desvairada desse lar - o mundo à margem?
Meu juízo a crepitar no breu da noite
A noite, as horas passando, espinhadas
Que há de mim neste penar em desalinho
Arrastado pelo chão, lançado aos ares desse dia?
Serão as folhas? Serei eu? Já não as sou?
Os homens do mundo dentro de mim
Sou eu pelos ares - feito folhas, sem razão -
Asas do meu juízo - minha margem de calma -
Esse caminhar no ermo aqui por dentro
Tudo lá fora treme ao fim
De dias calmos embalados pelo vento
De horas passadas pela sala,
O lar, a varanda, o tempo, o nada, tudo treme
Ao fim do meu juízo no breu da noite,
Do sacudir das minhas asas de juízo
- pássaros em revoada à margem do dia -
A tremer em desalinho à margem da calma
Feito os homens levianos
Dentro de mim.