sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desvairada

Passa a tarde, passa o dia, o tempo, o nada
Horas espinhadas pela sala, tudo enfim se cala
Que há em mim deste meu lar de calmaria
- ceias silenciosas, o som na tarde, as horas -,
De noites varadas a fio, enfim, que há?
Serei aqui, será? Aqui, além? Já não o sou?
O vento arrasta folhas na varanda, leviano
Traz à memória homens do mundo
A sacudir em desalinho como as folhas
- secas, pelos ares, sem razão -
Serei eu aquele homem solitário
À margem da estrada pela noite
E serão meus aqueles seus olhos de nada?
Horas a fio ali no breu, estradas passadas
Será ele eu mais do que eu, assim vazio, leviano
E eu em mim, assim, como um disfarce
De moça desvairada desse lar - o mundo à margem?
Meu juízo a crepitar no breu da noite
A noite, as horas passando, espinhadas
Que há de mim neste penar em desalinho
Arrastado pelo chão, lançado aos ares desse dia?
Serão as folhas? Serei eu? Já não as sou?
Os homens do mundo dentro de mim
Sou eu pelos ares - feito folhas, sem razão -
Asas do meu juízo - minha margem de calma -
Esse caminhar no ermo aqui por dentro
Tudo lá fora treme ao fim
De dias calmos embalados pelo vento
De horas passadas pela sala,
O lar, a varanda, o tempo, o nada, tudo treme
Ao fim do meu juízo no breu da noite,
Do sacudir das minhas asas de juízo
- pássaros em revoada à margem do dia -
A tremer em desalinho à margem da calma
Feito os homens levianos
Dentro de mim.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Salto

(para os meus Mano, Nique e Fafi)


Era guerra

Era guerra e amor

No corpo triste

Triste de ter e deixar

Novamente

Era dor

De subir e chegar

E calhar no vértice

Alto da minha razão

- aos poucos esvaída -

Entre lucidez e torpor

À beira do salto

Da despedida

Adeus

Era amor.

domingo, 18 de abril de 2010

Sonho e Sal

“É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo”
(José Carlos Capinan; Movimento dos Barcos)

Embarcação lançada nas águas
Meus pesares no teu mar
De ondas insólitas
Balanço sem norte
Meu sonhar fecundo
De beber dos teus olhos
O verde do mundo
Destas águas revoltas
Te levar para além
(na proa, meu bem)
Do ventre do mar
Curar nossa dor
Em beijos de sal
Viver em ti
Em ti fenecer
Para além de mim
Por fim
Naufragar.